2008-05-31

As aulas são para aprender... não para ensinar!

Há actualmente um crescente interesse pelo Yoga. Isso faz com que as pessoas procurem, para além das suas aulas regulares, frequentar também workshops e similares com professores que por cá vão aparecendo. Fantástico. Muito bom. Só se aprende com isso.


No entanto, há que ter alguma atenção. Quando o verdadeiro conhecimento (grande ou pequeno) não está ainda instalado no praticante, quando não existe ainda maturidade na prática, somos levados a interpretar situações ou fazer deduções impregnadas de boa vontade, mas sem conhecimento e que eventualmente podem estar erradas. E isto só vai criar confusões. Mas nada melhor que uns exemplos concretos deste tema:

- No workshop do Rajiv Chanchani fizemos Savasana com os pés contra a parede. E foi excelente. Há contudo que ter presente que em Savasana o corpo não deve tocar em nada para além do solo – nem no vizinho, nem na parede. Não há um Savasana certo e outro errado. Faz-se Savasana com os pés na parede, apenas e só, quando o professor assim o disser. Ou seja, por diversos motivos e depois de uma prática de várias horas que incluiu posturas para trás, Rajiv achou por bem dar esta instrução para Savasana. Não podemos agora deduzir que Savasana é sempre assim, ou que depois das posturas para trás Savasana é com os pés na parede, ou que depois de muitas horas de prática, Savasana é feito desta forma!

. Alguém falava sobre o Yoga dever ser praticado num espaço próprio, chão firme, tapete antideslizante, etc., e do facto da prática em espaço aberto, no meio da natureza, com os pés descalços sobre a relva não ser o ideal para o yoga (volto a lembrar que falo de Iyengar Yoga). Ao que um outro praticante respondeu que não devia ser bem assim, porque tinha visto um professor sénior ensinar sobre a relva. Descobri que se estava a referir a uma fotografia tirada no último dia de uma semana de verão de prática intensa, quando durante uns 10 minutos os alunos praticaram no jardim, sobre o tapete na relva, a ida de Urdhva Hastasana para Urdhva Dhanurasana (droping back), fugindo ao solo de mármore duro do estúdio em que estavam. Conclusão – tomou a parte pelo todo! Este professor não ensina sobre a relva!

. Se numa outra situação nos ensinaram a entrar em Trikonasana dobrando ligeiramente a perna da frente, rodando-a bem para fora e depois voltando a esticá-la antes de descer, isto não significa que a entrada em Utthita Trikonasana seja com a perna dobrada!!

Há mil exemplos para dar. No entanto, aquilo que é necessário reter, enquanto não temos a tal maturidade na prática, e para isso já é necessário ter a humildade de o reconhecer, é seguir as instruções que são dadas em cada aula. Ou seja, não devemos levar os ensinamentos de um professor para a aula de outro; por um lado desconhecemos os motivos pelos quais isto ou aquilo está a ser ensinado de maneira diferente daquela que conhecemos e por outro, embora os dois possam até estar a dizer exactamente o mesmo, fazem-no por palavras ou acções e instruções diferentes, o que apenas provoca confusão a quem não estiver muito dentro do tema.

Conclusão – Continuem a ir a estes workshops que começam a aparecer de Norte a Sul do País, mas percebam que há formas diferentes de ensinar o mesmo, e há razões para determinadas coisas serem feitas naquela sessão, daquela forma; não as transportem para situações diferentes.
Voltem depois às aulas normais para aprender e não para ensinar.
Usem de humildade e discernimento, só assim evoluirão.