Tantas vezes usamos nas aulas de Yoga esta ideia de
rendição (surrender) - rendermo-nos à prática, à postura, não resistir, etc…. É também um
conceito fundamental na forma como conduzimos a nossa vida, quer seja a nível
pessoal, familiar, de trabalho, de lazer.
Mas o conceito é difícil de entender. Pensamos em rendição
como resignação, o que está errado; ou vemos a rendição como indiferença. Ou
achamos que temos de aceitar passivamente tudo aquilo que acontece, sem
tentarmos dar a volta à situação e modifica-la.
Na realidade, como diz Eckhart Tolle, “render-se consiste na
sabedoria simples, mas profunda, de obedecer e não de se opôr ao caudal da
vida; … render-se é aceitar, incondicionalmente e sem reservas, o momento
presente.” A rendição deve fazer parte da nossa prática de yoga, bem
como do nosso dia-a-dia. Quando em uma asana o meu corpo resiste e se “debate”
com toda a energia, tenho de tomar consciência do que acontece nesse dado
momento – porque não consigo ir mais além, o que me trava, é dor, é medo, é
falta de força física? Tenho de reconhecer que há uma resistência. Mas de onde
vem essa resistência? Que posso fazer para melhorar esta situação? Se houver
alguma acção a fazer, tenho de a fazer de imediato, no presente momento; e se
não a conseguir fazer de imediato, só tenho de aceitar a situação presente e
não resistir mais, até que chegue o momento de a poder modificar. Tenho de me
render mais profundamente ao que é. Eckhart Tolle diz que se nunca conseguirmos
aceitar o que é, também não seremos capazes de aceitar as pessoas tal como elas
são – iremos "julgar, criticar, classificar, rejeitar ou tentar mudá-las”.
Quando não temos a capacidade de rendição, ficamos
psicologicamente rígidos, fechados e distanciados do fluxo da vida. Sentimos
inconscientemente a necessidade de competir e dominar e aí surge o medo. Até mesmo
a nível fisico, o corpo torna-se duro, rígido e tenso. O corpo contrai-se e o
fluxo de energia deixa de circular livremente, ficando os bloqueios cada vez
mais densos. Usando a terminologia de Henri Bergson, filósofo moderno francês,
o “elan vital” esmorece e há como que uma separação da nossa essência.
Quando nos rendemos, voltamos a estabelecer o contacto com
Prana, a energia divina, a energia da fonte do Ser. Nesse momento, ou dessa
forma, a vida volta a cooperar connosco.
“A rendição não transforma o que é, pelo menos directamente.
A rendição transforma-nos. Quando nós nos transformamos, todo o nosso mundo se
transforma, porque o mundo é apenas um reflexo.”
Aprender a praticar a rendição, é renunciar à resistência e
ao domínio da mente. “Abre-se então o reino do Ser, … e de repente, uma grande
quietude levanta-se dentro de si, uma indizível sensação de paz. E dentro dessa
paz, há uma grande alegria. E dentro dessa alegria, há amor. E no mais
recôndito centro, há o sagrado, o incomensurável, aquilo a que não se pode dar
um nome”.
E ISTO É YOGA!
Baseado em “The Power of Now” | Eckhart Tolle