2012-05-02

Rendamo-nos!


Tantas vezes usamos nas aulas de Yoga esta ideia de rendição (surrender) - rendermo-nos à prática, à postura, não resistir, etc…. É também um conceito fundamental na forma como conduzimos a nossa vida, quer seja a nível pessoal, familiar, de trabalho, de lazer.
Mas o conceito é difícil de entender. Pensamos em rendição como resignação, o que está errado; ou vemos a rendição como indiferença. Ou achamos que temos de aceitar passivamente tudo aquilo que acontece, sem tentarmos dar a volta à situação e modifica-la.
Na realidade, como diz Eckhart Tolle, “render-se consiste na sabedoria simples, mas profunda, de obedecer e não de se opôr ao caudal da vida; … render-se é aceitar, incondicionalmente e sem reservas, o momento presente.” A rendição deve fazer parte da nossa prática de yoga, bem como do nosso dia-a-dia. Quando em uma asana o meu corpo resiste e se “debate” com toda a energia, tenho de tomar consciência do que acontece nesse dado momento – porque não consigo ir mais além, o que me trava, é dor, é medo, é falta de força física? Tenho de reconhecer que há uma resistência. Mas de onde vem essa resistência? Que posso fazer para melhorar esta situação? Se houver alguma acção a fazer, tenho de a fazer de imediato, no presente momento; e se não a conseguir fazer de imediato, só tenho de aceitar a situação presente e não resistir mais, até que chegue o momento de a poder modificar. Tenho de me render mais profundamente ao que é. Eckhart Tolle diz que se nunca conseguirmos aceitar o que é, também não seremos capazes de aceitar as pessoas tal como elas são – iremos  "julgar, criticar, classificar, rejeitar ou tentar mudá-las”.
Quando não temos a capacidade de rendição, ficamos psicologicamente rígidos, fechados e distanciados do fluxo da vida. Sentimos inconscientemente a necessidade de competir e dominar e aí surge o medo. Até mesmo a nível fisico, o corpo torna-se duro, rígido e tenso. O corpo contrai-se e o fluxo de energia deixa de circular livremente, ficando os bloqueios cada vez mais densos. Usando a terminologia de Henri Bergson, filósofo moderno francês, o “elan vital” esmorece e há como que uma separação da nossa essência.
Quando nos rendemos, voltamos a estabelecer o contacto com Prana, a energia divina, a energia da fonte do Ser. Nesse momento, ou dessa forma, a vida volta a cooperar connosco. 
A rendição não transforma o que é, pelo menos directamente. A rendição transforma-nos. Quando nós nos transformamos, todo o nosso mundo se transforma, porque o mundo é apenas um reflexo.”
Aprender a praticar a rendição, é renunciar à resistência e ao domínio da mente. “Abre-se então o reino do Ser, … e de repente, uma grande quietude levanta-se dentro de si, uma indizível sensação de paz. E dentro dessa paz, há uma grande alegria. E dentro dessa alegria, há amor. E no mais recôndito centro, há o sagrado, o incomensurável, aquilo a que não se pode dar um nome”.
E ISTO É YOGA!     

Baseado em “The Power of Now” | Eckhart Tolle